sexta-feira, 6 de junho de 2014

Reflexão com Inflexão - Por: Marcelo Cunha

Ah que legal o Houdini achou uma variante boa numa posição que perdi; Eita que variante arrasadora (com sacrifício de dama) o Fritz achou e eu perdi esta partida; Vou me preparar para a partida com o Vasilievitch (são 11:30 da manhã de um dia x, a próxima partida será às 14:30 deste mesmo dia!), mas ele (o cara) confia no Fritz que tava dando 2,63 de vantagem pro "cara - ele é oooo caaaara" numa linha de uma variante que o dito cujo (Vasilievitch) gosta, e isso e aquilo, e mais e mais histórias...

Já disse reiteradas vezes que o treino de cálculo é necessário para progredir no jogo de xadrez, mas depender do computador para aprender a calcular, ou aprender a calcular através das variantes certeiras (nem sempre) e frias do computador é o caminho para melhorar no xadrez?
Ok, com tanto avanço (PCs -é o novo! - potentes, notebooks, ultrabooks, tabletes, HDs 500 de Gigas, 1 Tera...) será que passar uma partida comentada, com análises humanas (os livros clássicos são pródigos neste mister) seria um modo passivo e improdutivo de estudar xadrez? E ainda, ler um texto dos citados livros clássicos explicando determinado tema, digamos um texto um pouco denso que requer um pouco de paciência e prática de leitura para sua compreensão não seria uma fonte de alimento para idéias abstratas que podem iluminar o campo intuitivo na hora da partida de xadrez?
Bob Fischer
Vale lembrar tal como fez Bobby Fischer, o jogador de xadrez pode expandir seus conhecimentos, aprender outros idiomas para ler livros em línguas alienígenas ( a língua inglesa seria a mais comum).
Voltando ao Fischer, ele teve (ou se viu na necessidade ou se viu imerso na compulsão de aprender mais e mais o xadrez, ou até por questões geopolíticas!) que aprender a língua Russa para ler  a extensa e prolífica litetura Russa a respeito do xadrez.
Os computadores podem auxiliar e muito o jogador de xadrez, principalmente no manejo de base de dados gigantes, filtro de partidas, variantes, finais, etc, e claro, auxiliam, sim, os grandes mestres nas complexas variantes calculadas ou dadas pelas potentes parafernálias cibernéticas do mundo moderno.
Os grandes mestres, principalmente os de calibre acima de 2750 tem um conhecimento estratosférico da arte de Caíssa, mas descendo para o mundo dos mortais, poderia-se afirmar que o uso consistente de computador pode incitar algum vício nos "chess players", e nesse ponto os livros fazem uma diferença fundamental, pois com a leitura dos mesmos vai se construindo uma lenta teia de conhecimentos e idéias que podem ser úteis na hora das partidas.
Alexander Chernin
Vejamos o que o melhor (ou um dos) treinador de xadrez do mundo, Alexander Chernin, diz sobre o tema: "Eu não digo nada novo, mas repito o que já se tornou um clichê, algo como: "fumar faz mal para sua saúde. Computadores tem indubitalvelmente algo de positivo, principalmente na pesquisa rápida de partidas e suas correlações bem como nas bases de dados, mas as análises de programas de xadrez tem seu lado negativo. O meu sistema de treinamento (do Chernin) consiste em conduzir os jogadores a ser resistentes às influências negativas dos computadorese e ajudá-los a desenvolver habilidades de análise. 
Vejamos mais um comentário do Chernin: "O meu treinamento consiste, também, de duas partes principais focadas no jogo e manobra posicionais e no cálculo. Como fundamento, eu uso as idéias dos livros do Botvinnik e do Yuri Razuvaev - famoso teórico e treinador, com o qual, ao longo de vários anos, troquei conhecimentos sobre treinamento de xadrez. Assimilei idéias metodológicas de ambos os mestres. Para cálculo em meio jogo e finais de partidas eu confio nos métodos do Dvoretsky, o qual foi meu treinador. De fato, na minha formação de enxadrista, ele foi o único treinador que tive. Infelizmente, eu tinha 22 anos quando comecei a treinar com ele, idade essa que já é tarde para os padrões de treinamento do xadrez. Eu também saquei idéias dos livros de famosos enxadristas de onde selecionei material útil e também da prática do xadrez - de Steinitz a Carlsen. Grande parte do meu trabalho adveio dos últimos livros do Kasparov. Todo esse material/método representa o espectro do meu sistema, incorporado nas minhas leituras e exercícios. Sem espaço para falar tudo aqui, mas meu livro "Pirc Alert contém explanações mais detalhadas a respeito de minha metodologia (Pirc Alert, co-autor Lev Alburt, 2001)". 
A respeito dos livros, não só os de xadrez, eles são fontes fantásticas para o aprimoramente humano, e fontes inesgotáveis de idéias abstratas, e ainda mais, a prática da leitura melhora a paciência, a ansiedade, desenvolve a disciplina, joga luz em questões obscuras guiando o leitor para o caminho de uma possível solução ou para outro caminho, desperta a imaginação e por fim, além de tantas outras qualidades/características dos livros/leitura o leitor é livre para escolher qual livro consultar/ler,  qual livro comprar, qual biblioteca visitar (propositalmente evitei adicionar: "procurar no google", ainda que seja altamente comum nesses dias")... 
Para concluir vejamos pequeno texto com análises, cuja fonte é o livro do Yuri Averback, Comprehensive Chess Endings - Bishop Against Knight Endings, Rook Against Minor Piece endings, Volume 2:
I. Peões dobrados (finais de bispo e peões contra cavalo)

Com peões dobrados as chances de ganho são significativamente reduzidas. Se o rei defensor puder alçançar uma casa em frente aos peões que seja inacessível para o bispo, então, como nos finais com um peão, o empate é óbvio, no caso, é importante que o cavalo não esteja imobilizado ou dominado pelo bispo ou rei adversários.
De grande interesse são as posições nas quais as peças do lado mais fraco bloqueiam o peão mais avançado numa casa de outra cor do bispo oponente.
É salutar notar/perceber, em comparação aos finais com 01 peão, que o segundo peão dobrado ( o que está atrás do mais avançado), incrementa as chances de ganho, uma vez que priva o cavalo de saltar em importantes casas. O diagrama a seguir é um exemplo típico:

1 Re7, Cb8, 2 Ba7 Cc6 (2...Cd7, 3 d4), 3 Re8 Ce5, 4 d4! Cd7, 5 Re7, e as pretas estão em zugzwang, de todo o modo, seria apressado concluir que sempre o ganho com peões dobrados será possível quando o lado mais fraco estiver em zugzwang, vejamos então o próximo diagrama movendo o diagrama anterior para o lado esquerdo do tabuleiro, aqui eu acrescento que cada palavra, cada frase do autor é (ou contém) um ensinamento inestimável

Porque é empate? O leitor supreso deve (ou deveria) perguntar isso. Aqui as pretas ficam realmente em zugzwang mas a posição é empatada, e resultará somente no afogamento do rei!
1 Rd7 Ca8, 2 Bb5 Cb6, 3 Rd8 Ca8, 4 c4 Cc7, 5 Rd7 Ca8, 6 Ba6 Cb6, 7 Rd8 Ca8, 8 Bb7 Cc7! (8...Cb6, 9 c7! Rb7, 10 c5 Cc8, 11 c6 e as brancas ganham) 9 Rd7 Ra7!!, agora 10 Rc7 leva imediatamente ao afogamento (stalemate em inglês) enquanto que contra 10 Ba8 ou 10 Ba6 as pretas não(!) devem tomar o bispo e sim jogar 10...Rb8, as brancas também não conseguem nada com 10 Rc8 Rb6, 11 Rb8 (11c5 Ra7) Ce8, 12 Ba8 Rc5, 13 Rc8 Cd6, 14 Rd7 Cc4, 15 c7 Cb6, 16 Re6 Cc8 com empate. 

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