quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A Liga que veio pra ficar...


Hoje concedemos entrevista para o amigo Frederico Gazel sobre a Liga Brasileira de Xadrez, fundada no último dia 21 de setembro, em Brasília/DF. Faço questão de mostrar o que disse aos cearenses, para que não se rendam às conveniências políticas e lutem pelo que é certo. Estar do lado mais forte sempre é muito confortável, mas temos que vislumbrar dias melhores para o nosso jogo e isso implica em lutar, mesmo que o inimigo seja poderoso e vá lhe atacar de todas as formas. O bem sempre é o lugar correto.

GAZEL: "Grande Ari... Estou produzindo uma matéria sobre a fundação da LIGA e gostaria de um depoimento seu..."

1. Qual foi o sentimento visto na assembleia de fundação?

O sentimento foi de esperança e protagonismo. Esperança porque as pessoas que presenciaram a Assembleia entenderam que o xadrez brasileiro não é o mar de lama que está definitivamente comprometido, mas sim um lugar onde há espaços para pessoas do bem fazerem algo diferente, baseados nos nossos princípios: ética, democracia e respeito ao enxadrista. Protagonismo pois existe a percepção de que a mudança parte de cada um e de que se quisermos tempos melhores para o xadrez, precisaremos da ação dos próprios jogadores e dirigentes. Não adianta só ficar bradando contra o opressor, temos que lutar com todas as forças que temos. Para fazer o bem, você não tem que medir na balança os interesses individuais, mas o bem maior que é a comunidade enxadrística. 

2. em que pode mudar o xadrez com a criação da nova entidade? 

A grande mudança é a potencialização do xadrez popular. Existe uma verdadeira parede de procedimentos burocráticos hoje na Confederação Brasileira de Xadrez, formada por ameaças, multas, taxas, punições, apadrinhamentos, etc que impede aos pequenos organizadores montarem torneios pelo Brasil afora. A LBX vai permitir que todos os organizadores de qualquer envergadura possam realizar torneios e assim poderemos valorizar o trabalho dos enxadristas de todo o território nacional, de forma integrada. Alguns mecanismos como a implantação da carteira do enxadrista que tentamos implantar na CBX, sem sucesso, será realidade no sistema da Liga. A LBX é uma entidade essencialmente inclusiva, que quer uma profunda mudança democrática no xadrez nacional. Queremos todos os árbitros, jogadores, organizadores e dirigentes do país no nosso sistema, independente se são de situação ou oposição. Queremos discutir ideias, propor um debate onde o contraditório seja aceito e que as pessoas não sejam perseguidas por defenderem ideias e ações. A LBX veio pra trazer mais xadrez para o país. Outra mudança é na relação de poder. Na LBX criaremos quantas representações forem necessárias para espalhar a nossa bandeira pela nação. não queremos nichos de poder estáticos, nem dirigentes da LBX que impeçam a realização de torneios de xadrez porque o realizador é seu opositor. quem fizer isso, tá fora do padrão LBX. Nosso padrão é a democracia e a inclusão. Existem Federações Estaduais que criam arcabouço burocrático tão rígido que impede o crescimento do xadrez no estado, só permite xadrez para um pequeno grupo controlado e controlável. Chega disso! queremos que as entidades do xadrez (Clubes, Associações, federações e Confederação) lembrem que o papel delas é fomentar o xadrez, não lutar contra. Fora do xadrez já existem muitas limitações ao nosso esporte, as entidades não podem ser mais uma. Enfim, o xadrez é para todos, o xadrez é de todos.

3. Como surgiu a LBX e por quê?

Todos sabem que eu já fui paparicado por essas mesmas pessoas que estão no poder na estrutura da CBX. Realizei quantas Semifinais de Brasileiro eu quis, fiz Abertos do Brasil e outros torneios de grande porte com todas as benesses do poder. Ser do grupo dominante é muito confortável. Como exemplo, sai em 2010 do Ceará como árbitro Regional para Brasília e 2 anos e meio depois já era árbitro FIDE. Na condição de bajulado pelo poder, acredito que ainda esse ano eu chegaria a Árbitro Internacional. As pessoas querem estar no poder, ou amigas dele pra isso e por isso. Outro exemplo, no Nordeste as federações que foram agraciadas com as melhores competições de 2013 foram aquelas mais próximas ao poder, enquanto as outras nada receberam. Como Vice Presidente da Confederação Brasileira de Xadrez vi que democracia é algo que não existe e que tudo parte da cabeça do seu principal gestor. Nunca fui consultado pelo presidente em nenhuma decisão, nem muito menos, as propostas de mudança na entidade foram acatadas. Por exemplo, queria que a CBX revisse a situação de todas as Federações Estaduais que estavam fora do sistema e propusesse condições razoáveis para reintegrá-las. Essa era a minha função como VP de Relações Interiores. Nada foi acatado, pois o presidente não está interessado em integrar as 11 federações que estão fora do sistema. Aliás, com a inclusão do Paraná, Ceará, as mais novas "inadimplentes - nas contas do gestor" agora seremos 13 federações fora do sistema, ou seja, a metade do Brasil não participa da CBX. A coisa é tão grave que se essas federações fundassem a, por exemplo, Confederação de Xadrez do Brasil, e se juntassem a esta as federações de oposição, a nova entidade já nasceria maior que a CBX. Estou falando isso porque pensei nessa possibilidade concretamente, em algum momento.  Mas a minha ideia de fazer democracia dentro da CBX foi por água abaixo e o castelo de areia me descortinou uma cruel realidade, nos primeiros meses. Mas, assumi a seguinte postura: eu estou certo, ele está errado, se quiser que ele me tire da CBX, não vou pedir pra sair e vou continuar com a mesma postura. Por ocasião do dia do Trabalhador, uma mãe me falou da venda casada do torneio de Poços de Caldas, praticada pelo dirigente maior da CBX. Resolvi então que era o momento de fazer o que tinha que ser feito: denunciei a venda casada e, no dia das mães, fui retirado, sem aviso nenhum da CBX pelo presidente que havia me nomeado. Aí posso dizer que nasceu a LBX, de certa forma, pois foi a partir desse episódio que pude ser mais livre para expressar as minhas opiniões sem se preocupar com os jogos do poder.  O caminho para montar o grupo foi muito natural, pois percebi, rapidamente, que meu pensamento era muito mais parecido com pessoas como o Leandro Salles, do Paraná, ou Cláudio Roberto, de Minas Gerais, do que com o bando de lá. Comecei a montar a LBX do nada....nada MESMO! Botei uns banners na página que criamos no facebook e esperei. As manifestações logo apareceram, mas se me perguntassem quem era a LBX naquele momento, eu diria: ninguém, é só uma ideia. Depois de algum tempo, ainda sem estatuto ou qualquer instrumental, comecei a rascunhar uma diretoria. Como o Leandro Salles tinha sido o candidato da oposição, convidei-o para integrar o grupo. A partir daí foi trabalho de muitas mãos, eu chamando alguns de um lado, ele chamando outros, alguns companheiros ligados ao nosso grupo indicaram outros, nomes foram propostos e vetados, uma grande bagunça, até que chegamos aos quase 50 nomes que hoje temos. O grupo virou uma espécie de teia do bem, espalhada por todo o país. Nenhuma entidade do xadrez brasileiro tem a metade da capilaridade que nós temos. 25 estados tem hoje representação na LBX. Apenas Roraima não quis se juntar a nós, o que respeitamos, afinal, somente pensamentos monolíticos não permitem o contraditório. Esperamos que o passado que gerou o rompimento não seja apagado, pois é história, mas que seja colocado em segundo plano. O nosso foco hoje é a LBX e a nossa missão de propagar o xadrez pelo país. Não somos oposição à CBX, somos entidades com perspectivas e valores diferentes. Ademais ela representa as Federações, nós os jogadores. Aonde for possível, da nossa parte, e para o bem do xadrez, faremos parcerias. Assim como daremos combate no momento preciso. E aqui pra nós, que lindo grupo foi formado! Viva a Liga Brasileira de Xadrez. Junte-se a nós na luta pelo xadrez popular. 

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